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  • Foto do escritorOscar Nestarez

Os 6 melhores filmes e livros de horror lançados em 2020


O filme Zombi Child estreou no dia 26 de março de 2020 nos cinemas brasileiros (Foto: Reprodução)

Lá se vai um ano completamente fora da curva. Já são nove meses de pandemia de Covid-19, e nunca passamos tanto tempo dentro de casa como em 2020. Em consequência, nunca assistimos a tantos filmes e séries, sobretudo em plataformas de streaming. Em agosto deste ano, a Netflix informou ter 17 milhões de assinaturas no Brasil: quase 2 milhões a mais que as 15,2 milhões de assinaturas da TV a cabo, conforme dados Anatel.


Também compramos mais livros: de acordo com o Painel de Varejo dos Livros no Brasil, o período entre os dias 15 de junho e 12 de julho de 2020 registrou alta de 4,4% no faturamento das vendas em livrarias, supermercados e lojas de autoatendimento em relação ao mesmo intervalo em 2019. Em números absolutos, foram vendidas 2,95 milhões de cópias, que representaram uma receita de R$ 117 milhões.

Nas telas e nas cabeceiras de boa parte desse público, o horror marcou presença. Entre os dez filmes mais vistos da Netflix, comparecem Caixa de pássaros, a adaptação do romance de horror de Josh Malerman, e a distopia política de contornos grotescos O poço. Na lista elaborada pela revista Veja com os livros de ficção mais vendidos de 2020, temos O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë — que, embora não seja especificamente de horror, tem inúmeros elementos do gótico, uma das matrizes das narrativas assustadoras. E está lá também o indefectível Stephen King, com It.


Um ano intenso


Aqui na coluna, contribuímos bastante para essas estatísticas. E não apenas no consumo de livros e filmes; este feliz colunista também trabalhou muito para o mercado editorial, traduzindo, resenhando, escrevendo ficção ou textos complementares nos mais diversos formatos, e até narrando audiocontos. Graças a essa intensa atividade, pudemos conhecer obras incríveis (e certamente deixamos passar outras tão boas quanto).

Diante disso, a coluna deste mês será um espaço de troca. Vamos compartilhar as narrativas literárias e audiovisuais de horror que conquistaram o nosso coração ao longo desse estranho ano, e convidamos você a contar as suas preferidas nos comentários.

Aqui, destacamos obras lançadas em 2020, mas não necessariamente realizadas neste ano. Uma breve lista, subjetiva e polêmica como qualquer outra — e o colunista assume toda a responsabilidade por ela. Vamos lá:


1. A casa no fim de tudo, romance de William Hope Hodgson (Novo Século)


Começamos com uma obra literária publicada originalmente em 1908, mas que em 2020 recebeu uma edição brasileira de luxo pelas mãos do clube de assinaturas da Novo Século, a Escotilha. Hodgson ficou conhecido por ser uma das principais referências de H.P. Lovecraft, e a leitura de A casa no fim de tudo justifica essa predileção. Trata-se de uma narrativa de teor visionário, com cenas memoráveis e marcada por uma elaborada atmosfera de horror.


De estrutura emoldurada, o romance apresenta o manuscrito de um homem recluso, que vive com a irmã e o cão Pepper em uma enorme casa isolada no oeste da Irlanda. Ele relata como foi se dando conta de presenças estranhas nos arredores da residência — criaturas suínas que, com o passar do tempo, passam a atacá-lo.

Isso é apenas o princípio de uma jornada nada menos do que alucinante, que abrange gigantescos deuses ancestrais, viagens siderais e paisagens espetaculares. Não por acaso o romance causou tanto impacto em Lovecraft; aqui, no entanto, o horror cósmico é de foro íntimo, pessoal. Por tudo isso, A casa no fim de tudo foi, para a coluna, um dos grandes lançamentos de 2020.


2. Os livros de sangue - vol. 1, coletânea de contos de Clive Barker (Darkside)


Após anos de expectativa, a editora carioca Darkside enfim publicou o primeiro dos seminais Livros de sangue, do britânico Clive Barker. Dividida em seis volumes de contos publicados originalmente entre 1984 e 1985 na Inglaterra e a partir de 1993 no Brasil, a obra lançou para o estrelato aquele que ainda é considerado um dos maiores criadores do horror contemporâneo.



A publicação é uma grande notícia porque apresenta o Barker contista a um público que apenas o conhecia como romancista e/ou cineasta. E no território das narrativas breves, o criador de Hellraiser demonstra muitos recursos, explorando temas e subgêneros do horror com grande habilidade, além de demonstrar uma veia poética bastante própria.


Destacamos ainda a beleza do projeto gráfico, elaborado a partir da estética do grotesco e do horror corporal, tão recorrentes em Barker. A nota negativa vai para o texto de introdução aos contos: breve demais e vago na contextualização, infelizmente não acompanha a magnitude da obra.


3. O Vampiro, de John William Polidori (Clepsidra e Aetia Editorial)


Eis outra grande novidade de 2020. Trata-se da edição comemorativa da publicação da primeira narrativa em prosa de língua inglesa a apresentar um vampiro masculino, o conto O Vampiro (de 1819). O texto foi escrito pelo médico particular de Lord Byron, John William Polidori, a partir de um fragmento inacabado elaborado pelo famoso poeta na famosa reunião na Villa Diodati durante o verão de 1816, quando Mary Shelley também compôs seu Frankenstein.




Embora o conto em si não contenha grandes atrativos, sua influência na literatura vampírica é imensa. Lord Ruthven tornou-se a epítome do morto-vivo aristocrático que inspirou inúmeras outras personagens semelhantes, incluindo o indefectível conde de Bram Stoker. E a edição, publicada em colaboração entre a editora Clepsidra e a Aetia Editorial, dá conta dessa amplitude. Foram incluídos trechos de diários, cartas e resenhas em torno da obra de Polidori, além de derivações tanto na ficção quanto no drama, com traduções inéditas de obras no Reino Unido, França, Estados Unidos e Alemanha. Imperdível para fãs de vampiros e de horror no geral.


4. A cor que caiu do espaço, filme dirigido por Richard Stanley


Para a coluna, a adaptação cinematográfica do conto de H.P. Lovecraft foi outro destaque de 2020. O filme marcou o retorno do sul-africano Richard Stanley (dos ótimos Hardware, de 1990, e Dust Devil, de 1992) após anos afastado das câmeras, e vem sendo celebrado como uma das melhores transposições da obra lovecraftiana para as telonas. Uma façanha, dada a qualidade abstrata e elusiva do horror desenvolvido pelo autor de O chamado de Cthulhu.

Nicolas Cage protagoniza a obra, interpretando o pai de uma família um tanto disfuncional. As coisas desandam de vez quando, certa noite, um meteoro cai na fazenda onde ele vive com a esposa e três filhos. Aos poucos uma cor indefinível parece contaminar tudo no local — e não falamos apenas do solo, dos animais e da água.



Mantendo-se próximo da obra original, mas fazendo ajustes certeiros para aproximá-la temporalmente de nós, Stanley (que assina o roteiro ao lado de Scarlett Amaris) acertou em cheio na construção de uma atmosfera de crescente desvario, acentuada por cenas difíceis de se esquecer.


5. Zombi Child, filme dirigido por Bertrand Bonello


Escrito, produzido e dirigido pelo francês Bertrand Bonello (de Nocturama), o filme estreou no Brasil no começo de 2020 e se destaca por reinserir, na já fatigada categoria de mortos-vivos, o zumbi haitiano. Mais especificamente o episódio de Clairvius Narcisse, considerado o primeiro “zumbi real” da história. Conta-se que, em 1962, Narcisse, então com 40 anos, sofreu convulsões e foi declarado morto. Na mesma noite do sepultamento, teve seu caixão exumado e aberto por um bokor (espécie de feiticeiro vodu); então, o cadáver começou a se mover lentamente e foi levado dali.



Este é o prólogo de Zombi Child. Paralelamente à tragédia de Narcisse, desenvolve-se a história de Fanny (Louise Labeque) e Mélissa (a haitiana Wislanda Louimat), alunas de um prestigiado internato da França dos dias atuais, somente para moças. Fanny descobre que Mélissa mora com a tia, uma sacerdotisa vodu (mambo). Após ser friamente descartada pelo namorado, a primeira fica deprimida e resolve buscar ajuda — leia-se possessão — com a feiticeira. Enquanto isso, a amiga haitiana revela ser neta de Clairvius, e compartilha a impressionante história do avô com amigas atônitas.


O filme surpreende pela forma como explora as potências do horror contidas no vodu. Embora a trama não assuma um compromisso declarado com o gênero, há, por toda ela, uma latência, algo que pulsa nos subterrâneos e que enfim se revela em um clímax memorável. O confronto entre a racionalidade francesa e a ancestralidade haitiana acaba tendo consequências assustadoras.


6. Maria e João, filme dirigido por Oz Perkins


Outro destaque do ano, cá para nós, foi a sinistra releitura de João e Maria (Hansel & Gretel), dos Grimm, em que dois irmãos se perdem em uma floresta e são acolhidos por uma bruxa. A versão roteirizada por Rob Hayes e dirigida por Oz Perkins propõe uma inteligente e assustadora atualização do clássico. Ainda que se mantenha próximo dele em alguns aspectos, o filme logo deixa claras as opções pelo horror. Prova disso é o breve relato que antecede o enredo principal: a assustadora trajetória de como um bebê doente, condenado à morte, tornou-se a bruxa má da floresta (nenhum spoiler aqui).




Já a inversão do título (Maria e João) não foi pensada apenas como um aceno ao movimento feminista. Trata-se de uma mudança que sustenta a estrutura do filme, cuja protagonista é, sem dúvida, Maria (Sophia Lillis) — no conto dos Grimm, seu protagonismo é mais tênue, rarefeito; acentua-se apenas no desfecho, quando ela se torna a heroína.

No plano central também está uma bruxa ainda mais má e arrepiante, Holda (interpretada por Alice Krige). Assim, a adaptação acentua os traços assustadores já existentes no conto, torna-se um interessante conto de horror — ou de folk horror, como muitos têm dito, na esteira de filmes como A bruxa, de Robert Eggers, e Midsommar, de Ari Aster.


E os seus destaques de 2020, quais foram? Conte para nós nos comentários!

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